COMPARAÇÃO DA PERFORMANCE DOS CORREDORES DE LONGA DISTÂNCIA INDUZIDA PELOS DIFERENTES ESTÁGIOS DA RAREFAÇÃO DO AR

JORGE LUIS DA SILVA(1)(2); MARCIA BORGES DE ALBERGARIA(1)(4)

(1)LAFIEX - Laboratório de Fisiologia do Exercício & Medidas e Avaliação - Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

(2)JLS Running, Petrópolis, RJ, Brasil

(4)Coordenadora do Laboratório de Fisiologia do Exercício Medidas e Avaliação – Campus Akxe – Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

jorge@jls.pro.br

 

Resumo

A busca pela performance é o objetivo de todos os técnicos e atletas.Nos dias de hoje o objetivo principal é a procura de métodos para que se possa obter tal resultado.OBJETIVO Avaliar o nível de performance dos corredores de longa distância expostos a diferentes estágios da rarefação do ar através de controle hematológico e mediante o resultado do teste de 12 minutos realizados antes e depois da exposição à altitudes diferenciadas METODOLOGIA O tipo de estudo é descritivo utilizando média, e desvio-padrão(THOMAS; NELSON, 2002). A amostra foi composta por 7 atletas de atletismo modalidade fundo com mais de 6 anos tendo obtido resultados nacionais e (ou) internacionais na atividade que exercem. RESULTADOS Este estudo demonstrou que apesar da restrita eficácia relatada por pesquisas existentes conduzidas em atletas de endurance (COSTILL; WILLMORE, 1994) os dados coletados neste trabalho mostram que 14 dias após treinamento em altitude, um atleta aclimatado à 2400 metros obteve uma melhora no seu teste de Cooper 12’(MARINS,2003) em 5,68% e outro aclimatado à 1600 metros obteve melhora no seu teste de 2,15%.Sendo assim conseguindo  resultados a nível Pan Americano, Mundial e Olímpico. Na opinião de (ARMSTRONG, 2000) o treinamento na altitude tem sido usado na tentativa de melhorar a performance de endurance de atletas, no retorno ao nível do mar. CONCLUSÃO Concluímos com este trabalho que o treinamento de altitude é de validade restrita, por isso mais pesquisas serão necessárias a respeito do assunto, para detectar com maior precisão a duração ou o período de permanência em treinamento em altitude para obtenção dos efeitos quando retornar e competir ao nível do mar. 

Palavras chaves: Treinamento de altitude, corredores de elite de longa distância, hemoglobina, hematócrito, teste de Cooper.

 

Introdução
            Embora pouco se fale em treinamento de altitude, pois ainda existem muitas divergências sobre este tipo de treinamento, muitos autores se contentam com as desvantagens ao invés de exaltarem as vantagens existentes, mas foi em 1970, durante a Copa do Mundo de Futebol, no México (Cidade do México, 2.240m de altitude) que este tipo de treino adquiriu mais notoriedade. Contudo, muitos autores fazem referência ao treino em altitude, que poderia variar de 1600 a 2500 metros, sendo recentemente a altitude de 2200 a 3000 metros considerada a de melhor rendimento. Poucos atletas têm correspondido às experiências na altitude, porém é no universo dos corredores de longa distância que se tem obtido vantagens com o treinamento de altitude. O corredor de longa distância caracterizado pelo volume de treinamento, possui características aeróbicas.

              Mais de 40 milhões de pessoas vivem, trabalham e se divertem em regiões entre 2.000 á 7.000m acima do nível do mar. No nosso planeta, essas elevações são consideradas de grandes altitudes. Estas agem como desafios na adaptação fisiológica do organismo. Fato detectado nos recém-chegados a altitudes elevadas e que não tiveram tempo de adaptação a menor pressão parcial de oxigênio vigente nas grandes altitudes (MCARDLE et. al., 1992). Dentre essas pessoas que vão à altitudes elevadas, existe um grupo de atletas de alto nível, que notoriamente  procuram novos locais de treinamento em busca da melhora de sua performance.  

              Nessa incansável busca de uma possível melhora da performance os corredores de longa distancia em especial os de alto nível, realizam treinos diferenciados como, por exemplo, os treinamentos de altitude que podem levar a resultados positivos em muito dos casos. Essas alterações, tanto atmosféricas, quanto fisiológicas, fazem com que a performance de atletas em competições em médias e grandes altitudes sejam questionadas.

Segundo Costill e Willmore (1994), competições esportivas em altitude elevadas têm sido tradicionalmente associadas com performance prejudicadas. Segundo a IAAF - IAAF DISTANCE RUNNING MANUAL (2002), em associação com a W.M.R.A. - World Mountain Running Association recomendam que competições não se excedam a 3.500 metros devido aos efeitos fisiológicos sofridos nessa altitude. Porém de acordo com Weineck (1991), os desempenhos de resistência sofrem prejuízos na altitude quando a carga tem uma duração maior que dois minutos, ou seja, quando a distância é superior a 800 m. Por exemplo, na prova de maratona na Olimpíada do México (1968) o vencedor marcou 2 horas, 20 minutos e 26 segundos, enquanto que o recorde mundial era de 2 horas, 12 minutos e 11 segundos corridos no nível do mar. Isso demonstra que em provas de características aeróbicas (resistência), existe uma queda no desempenho devido a uma menor pressão parcial de oxigênio e uma diminuição no VO2 máximo que, de acordo com (FOX; MATHEUS, 1979), diminui cerca de 3% a 3,5% para cada 300 metros alcançados acima de 1.524m. O treinamento de altitude que é realizado em hipóxia tem como objetivo uma possível melhora de seus resultados, nele encontramos uma baixa pressão atmosférica e para chegarmos a realizar treinamentos em altitude devemos passar por um período de tempo no qual o organismo se coloca ao Stress ambiental, para chegar a uma adaptação. No período de adaptação o organismo se encontra em novo ambiente,sofrendo assim alterações fisiológicas favoráveis a performance.

 

Materiais e Métodos 

A pesquisa é do tipo quase-experimental (THOMAS; NELSON, 2002). A amostra do estudo foi composta num total de 7 atletas da seleção brasileira de atletismo da categoria fundo,  do gênero masculino com idade  entre 21 a 34 anos e que praticam atletismo (fundo) no mínimo há  6 anos. O grupo estudado realiza treinos de altitude que variam entre 1600 a 2400 metros acima do nível do mar e obtiveram resultados no nível Olímpico, Mundial e Pan-americano. O grupo realiza treinos em altitude três vezes ao ano, dentro da programação técnica de treinamento de altitude, respeitando as Fases de Adaptação,Treinamento de Altitude e Readaptação.

A amostra se sub-dividiu em 3 grupos: 1 atleta treinou à 2400 metros, 4 treinaram à 1600 metros e 2 ficaram treinando à nível do mar. A coleta de dados foi feita antes da subida para a altitude e imediatamente após chegada da altitude através de exames laboratoriais (controle hematológico) e teste de 12 minutos, Cooper apud Marins (2003) numa pista 400 metros. Sendo que a divisão da amostra se deu da seguinte forma: o primeiro grupo  realizou seus treinos á nível do mar na cidade do Rio de Janeiro, sendo o segundo grupo submeteu-se ao treinamento em altitude á 1600 metros na cidade de Campos do Jordão, São Paulo e já a terceira amostra foi composta por um individuo que foi submetido a uma altitude de 2400 metros na cidade de Big Bear, Califórnia, Estados Unidos. Sendo que o individuo que treinou a 2400 metros realizou o teste de 12 minutos quatorze dias após a segunda testagem (chegada ao nível do mar). No dia da coleta de sangue os atletas se encontravam em jejum pela manhã e após coleta de sangue se alimentavam e uma hora depois realizavam seus treinos normalmente, não alterando sua rotina de treinos.

Esse tipo de controle é feito para uma possível deficiência de ferro antes de se treinar em altitude e com isso foi empregada à técnica hematológica com contador automatizado (T-890 / COUNTER - COUNTER). Ao saber se o atleta se encontra com carência de ferro poderemos fazer alguns simples ajustes no hábito alimentar para evitar ou reverter o quadro de deficiência de ferro fazendo deste mineral mais um grande aliado da performance.

No que diz respeito ao treinamento era feito um controle através de uma ficha de avaliação em que os atletas todos os dias tinham de preencher dizendo se sentiam dores musculares, vontade de competir,vontade de treinar,apetite,qualidade do sono, sensação de fadiga, freqüência cardíaca de repouso (bpm) e peso (Kg). Utilizamos também os aparelhos de monitoria da freqüência cardíaca  da marca Polar S 210 principalmente nos treinos de adaptação á altitude e nas fases especificas do treinamento.Outro tipo de controle que era feito foi o ambiental, utilizando o aparelho ThermoHygro da marca TFA –Microzelle Lp03 Mn2400 Size AAA  aonde nos dizia a temperatura e a (URA) umidade relativa do ar aonde foram realizados os testes.

 

Resultados

A partir a pesquisa realizada observou-se diferenças significativas entre os respectivos valores médios calculados se dão pontualmente na variável Freqüência Cardíaca, FC_AQ (freqüência cardíaca de aquecimento) e FC_PC_3 (freqüência cardíaca pós Cooper 3 min). Temos que as diferenças observadas na FC_AQ se dão no contexto inter-grupos e apresentam uma distribuição dos valores médios dos Grupos segundo a ordem Gr 1 = Gr 2 < Gr 3, seja no estrato temporal Antes como também no Depois. A segunda diferença observada se dá no contexto intra-grupo, mais especificamente no Grupo 3, que apresenta um aumento no valor médio da FC_PC_3 quando do comparativo entre os estratos temporais Antes e Depois, o mesmo não ocorrendo com os dois outros grupos.

Com relação ao treinamento dos atletas ao nível do mar  no primeiro e no segundo teste de Cooper, sendo o primeiro teste realizado 35 dias antes do segundo, observa-se que os 2 atletas obtiveram um resultado positivo (media de 3,04% +/- 0,31) em relação ao seu primeiro teste.

            Relativo aos atletas que treinaram a 1600 metros, no primeiro teste de Cooper e no segundo teste de Cooper realizado 35 dias após aquele, observa-se que os 4 atletas obtiveram um resultado positivo (media de 2,15%) em relação ao seu primeiro teste.O que vai de encontro com o estudo de (WILLIAN; DONALD, 2003)no que se refere a queda de 2,8% do VO2 Máximo do grupo que realizou treinamento em altitude. 

            Foi encontrado um resultado no Aquecimento / Pós-teste de 58,12% de aumento da freqüência cardíaca com desvio padrão de +/- 7,76 antes do treinamento e um aumento de 59,20 com desvio padrão 7,02 após 35 dias de treinamento a 1600 m de altitude. E no Pós-teste / 3’Pós-teste foi encontrado um resultado da freqüência cardíaca de -42,01% com desvio padrão de +/-3,64 antes do treinamento, e -42,66% com desvio padrão +/- 2,24 após 35 dias de treinamento a 1600 m.

O único atleta que treinou a 2400m, ficou em relação ao seu primeiro e segundo teste de Cooper, onde observa-se que o mesmo obteve um resultado negativo de 1,23% em relação ao segundo teste o que vai de encontro com (William; Donald, 2003) que concluíram que o treinamento em altitude não aumenta significativamente a performance em corrida de endurance. No entanto os dados coletados mostram que 14 dias após treinamento em altitude o atleta obteve uma melhora no seu teste de Cooper 12’(MARINS,2003).

Ao comparamos o número de hemácias antes e após treinamento em altitude, notá-se que o 1º, 3º, 4º e 6º atleta ocorreu uma queda no seu numero de hemácias. O que vai de encontro com um grupo de atletas que treinaram a 2500 metros de altitude aonde seu número de hemácias também diminuiu (WILLIAM; DONALD e col,2003).      

 

Conclusões

Baseado nos resultados obtidos nesse estudo, concluímos que para o desempenho atlético obtido em altitudes de 2.000 metros ou superiores, será essencial um período de aclimatização, pois a redução da pressão barométrica é conseqüência redução na pressão parcial de oxigênio que ocorre com o aumento da altitude, diminuiu a quantidade de oxigênio transportada para o sangue.Isso produz quedas mensuráveis do desempenho nas atividades de endurance com mais de 2 minutos de duração (predominância do metabolismo aeróbico ).Entretanto, a performance em atividades anaeróbicas não é afetada e pode até ser melhorada devido à redução da densidade do ar.Com a aclimatização , algumas adaptações fisiológicas ocorrem, entre elas, aumento do numero de glóbulos vermelhos, aumento da hemoglobina, aumento da capilarização, aumento da densidade mitocondrial, aumento das enzimas oxidativas, e de acordo com essas adaptações facilitam a transferência do oxigênio do ar para o sangue e aumentam o conteúdo de oxigênio arterial (HAYMES; WELLS,1986; FIORELLA, CAVALAZZI; BRIGLIA, 2003).

O treinamento na altitude tem sido usado na tentativa de melhorar a performance de endurance dos atletas, no retorno ao nível do mar.Essa forma de treinamento, entretanto, é cara (devido ao transporte,moradia , alimentação e outros custos) porem tem validade restrita (ARMSTRONG,2000).

A sua eficácia não é totalmente apoiada por pesquisas existentes conduzidas em atletas de endurance (COSTILL; WILLMORE, 1994).No entanto os dados coletados mostram que 14 dias após treinamento em altitude o atleta obteve uma melhora no seu teste de Cooper 12’ (MARINS, 2003) em 5,68% para a altitude 2400 metros e 2,15% para a altitude de 1600 metros acima do nível do mar.

Afinal, o que se pode concluir é que mais pesquisas serão necessárias a respeito do assunto, para detectar com maior precisão á duração ou período de treinamento em altitude e o tempo de permanência dos efeitos obtidos a nível do mar.

 

REFERÊNCIAS

ALBERGARIA,M.-Apostila Fisiologia do Exercício II- Altitude ,12 pg. Seses, 2003.

ARMSTRONG,l.E. Performing in extreme environments. Human Knetics, 2000

COSTILL, D.l, WILMORE, J. Fisiologia do esporte e do Exercício. Champaign Illinois: Human Kinetics,1994.

FIORELLA,;CAVALLAZI;BRIGLLIA. Effetti fisiologici e metabolici dell’allenamento in altitudine nelle specialitá di endurance- Scientifica & técnica aplicata all’atletica, Leggera, 2003.  

FOSS; BOWERS - FOSS, Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. Madison, Brown & Benchmark,1993.

HAYMES, E.m.; WELLS, C.l. O ambiente e a performance humana. Champaing Human Kinetics, 1986.

IAAF, Distance Running Manual – IAAF. Global Athletics TM, 2002 edition.

MARINS, J. C. B.; GIANNICHI,  Ronaldo. Avaliação e prescrição de atividade física: guia prático. 3. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

MATHEUS, D.; FOX, E. l. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. Rio de Janeiro: Interamericana, 1979.

McArDLE, W.; KATCH, F. l.; KATCH, V. l. Fisiologia do exercício: Energia nutrição e desmpenho humano.Trad.Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992.

THOMAS, J. R.; NELSON, J. K. Método de pesquisa em atividade física. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

WEINECK,J .; Biologia do Esporte. São Paulo: Manole, 1991.

WILLIAM E.G.JR.;DONALD T.K. e colaboradores. A Ciência do exercício e dos esportes. Porto Alegre: Artmed 2003.

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